A voz do milênio: Elza Soares
Uma voz poderosa, um carisma extraordinário, uma postura de Rainha, um poder imensurável. Não há palavras suficientes que possam descrever Elza Soares, assim como não há palavras para expressar a dor da perda de um fenômeno da música brasileira. Foi em uma quinta-feira a tarde (20/01/2022) que a notícia do falecimento de Elza foi a público, mas, como dizemos por aqui, uma verdadeira rainha vive pela eternidade.
O início da Mulher do Fim do Mundo
Elza Gomes nasceu em 23 de junho de 1930 no Rio de Janeiro e foi obrigada a casar aos 11 anos, quando teve seu nome mudado para Elza Soares. Sua primeira apresentação pública foi no programa de rádio de Ary Barroso, na qual o apresentador se surpreendeu pela sua voz e a questionou de que planeta ela veio e foi aí que surgiu a resposta “planeta fome” que, mais tarde, se tornou nome de um de seus álbuns. A ainda menina Elza, que já era mãe na época, levou o prêmio do programa de calouros e conseguiu comprar alimentos para seu filho que estava doente.
Tendo uma vida conturbada entre morte de dois filhos, sequestro de sua filha em 1950 e o falecimento de seu marido, Elza precisou se manter forte para encarar a vida. Na década de 60 a carioca participou de outro concurso musical e ganhou um contrato fixo, a partir daí começou a viver de música.
Já conhecida no meio, Elza iniciou um relacionamento com Mané Garrincha que durou 16 anos, terminando um ano antes da morte do jogador. Tanto no primeiro quanto no segundo casamento a cantora sofreu violência doméstica, experiência que mais tarde resultou na música Maria da Vila Matilde, na qual a letra apresenta uma mulher que dá um basta na situação.
A voz do milênio
O título de a voz do milênio veio em 1999 pela BBC Londres, na época a cantora já tinha uma sólida carreira com grandes sucessos como
Acaso Você Chegasse, Língua (música com Caetano Veloso) e Sinhá Mandaçaia (dueto com Zeca Pagodinho).
Em 2015 ela gravou o álbum A Mulher do Fim do Mundo, um álbum poderoso que traz em suas letras a resistência e a potência de Elza.
“Mulher do fim do mundo
Eu sou e vou até o fim cantar”
E cantou até o fim. Em 91 anos passou por perdas de filhos, violência, racismo, ditadura militar, uma queda de palco que resultou na cirurgia de coluna que a fez ficar quase imóvel em shows e até COVID19, mas nada disso a parou, ainda este ano ela estava com apresentações marcadas. Em 91 anos Elza Soares cantou para o povo, cantou para as mulheres, cantou para as pessoas pretas. Ela é rainha, é porta-voz, é representatividade, é história e é legado. Em 2022 ela nos deixa, mas nunca será deixada. Obrigada por tudo, Rainha!